CHRIS DELBONI – O ESTADO DE S. PAULO
20 Maio 2016 | 10h 33 – Atualizado: 20 Maio 2016 | 10h 50
Natalia, de 10 anos, que toca viola, frequenta o Miami Music Project três vezes por semanas
Quando Natalia tinha 7 anos, ela descobriu o som da viola clássica. Seu irmão mais velho queria aprender violino, e a família ficou sabendo de uma instituição musical que oferecia aulas de graça, ou por um valor relativamente irrisório. Assim, sua mãe, Ivana Caiaffa-Barco, mineira, há 17 anos em Miami, inscreveu seus três filhos, Natalia, seu irmão gêmeo e o mais velho três anos, no Miami Music Project (Projeto de Música de Miami).
Os irmãos logo desistiram e partiram para uma programação extracurricular esportiva, mas Natalia se agarrou ao programa e já participou de nove concertos da orquestra juvenil, tocando viola. “Eu escutei muitas vezes o violino e estava sempre na minha cabeça, mas quando escutei a viola, gostei mais do som”, conta a jovem, hoje com 10 anos. “Me inspirou.”
O Miami Music Project começou em 2008 em Doral, sul de Miami, onde Natalia mora, e hoje opera em mais três comunidades: Liberty City, Little Haiti e Little Havana, todas de baixa renda. “Cada núcleo atende alunos em diferentes níveis de habilidade, com o objetivo de atingir crianças nas comunidades de risco”, diz Steven Liu, diretor do programa, que supervisiona todas as escolas e níveis.
Natalia frequenta o programa três vezes na semana. Ela pega um ônibus escolar às 17h15 onde estuda em Doral e vai até a Citrus Middle School, em Little Havana, onde são dadas aulas para os alunos mais avançados.
São 20 km no ônibus, mas seus pais dizem que vale o “sacrifício” e a distância não conta. “Foi uma boa oportunidade, pois as aulas particulares são muito caras”, diz Manuel, o pai, que é peruano.
Ele conheceu Ivana assim que ela chegou aos EUA com a tia para passar três meses estudando inglês. Tinha 32 anos na época. Em um ano, estavam casados, e ela nunca retornou ao Brasil.
Manuel teve oficina mecânica por 27 anos, mas decidiu recentemente não renovar o contrato de aluguel com o proprietário, e agora está trabalhando independente no mercado de valores.
“Se Natalia não estivesse nesse programa, não teríamos condições”, diz o pai, muito satisfeito não só com a possibilidade de ver a filha tocando um instrumento, mas com o fato de o programa ajudá-la no convívio social.

“O significado desse projeto é também interagir com pessoas de diferentes níveis sociais”, diz ele. “Selecionam pessoas de diferentes grupos para fazer uma orquestra, e o bom disso, realmente, é que os ajuda a trabalharem em conjunto. A música não tem fronteiras”.
Manuel e Ivana dizem que Natalia progrediu muito nesse aspecto.
“Ela escuta melhor as coisas, e a música é como um idioma – não importa o que você fala, a pessoa vai entender as letras e tocar”, diz Manuel.
Ivana, que toca piano, diz que sempre notou dons artísticos na filha. “Desde pequenininha, ela fazia cada desenho que a gente pensava que estava copiando alguma coisa, mas não, era da cabeça dela que desenhava – diferente dos outros filhos”, diz Ivana. “O que ela mais quer é continuar [no programa musical]. Melhoraram muito as notas, a disciplina e a perseverança”.
O objetivo do Miami Music Project, hoje com 460 crianças, é justamente a transformação sócioeconômicacultural através da musica, diz o diretor.
O programa se espelha no “El Sistema”, um sistema de ensino musical público e gratuito na Venezuela. Desde que foi fundado, em 1975, já formou grandes músicos renomados internacionalmente, como Edicson Ruiz e Gustavo Dudamel.
“El Sistema é um fenômeno internacional que utiliza orquestra e música como veículos de transformação da própria definição de pobreza”, diz Steven.
As crianças, começando com 4 anos, treinam em grupo, como integrantes de uma orquestra, de 3 a 5 dias por semana. O processo de seleção é livre, baseado apenas no número de instrumentos disponíveis. Enquanto há espaço e instrumento, qualquer aluno inscrito é automaticamente aceito.
Cerca de 80% dos alunos recebem bolsa de estudos integral. O restante, cujas famílias têm condições, pagam uma anuidade de US$ 200 a US$ 250 por 36 semanas de aula, com até 10 horas de programação semanal.
Um estudo que mede o impacto da participação no Miami Music Project mostra que a autoconfiança da criança, concentração, automotivação, autoestima e determinação, por exemplo, aumentam de 85% a 98% na maioria dos casos.
Em junho, Natalia vai participar de mais um concerto, aberto ao público, na Florida International University.
“Gosto de escutar os outros instrumentos – quando todos tocam junto”, diz ela. Mas o que gosta ainda mais?
“Todos aplaudindo. É a melhor parte”, diz sorrindo. Para quem estiver interessado, as inscrições para o curso de verão estão abertas. A programação vai de 13 de junho a 8 de julho, das 9h às 13h, com um concerto no final.
Twitter @chrisdelboni
Serviço:
Miami Music Project, Inc.
2125 Biscayne Blvd., Suite 215 | Miami, FL 33137
Phone: 786-422-5221
Próximo concerto:
4 de junho: Duas performances: 13h: alunos do primeiro e segundo nível; 19h: alunos mais avançados. Florida International University, The Herbert and Nicole Wertheim Performing Arts Center Concert Hall, endereço 10910 SW 17th St., Miami, 33199.
Ingressos e mais informações no site do programa [www.miamimusicproject.org]. Entrada grátis; sugestão de doação de US$ 5.
Programação de verão https://miamimusicproject.org/our-programs/summer-music-camp/
Inscrição até 13 de junho. Crianças de 6 – 18 anos.
Endereço: Núcleo Little Havana: Citrus Grove Middle School, 2153 NW 3rd Street, Miami, FL 33125
Datas: 13/6/2016 – 8/7/2016, das 9h – 13h
US$ 250
As crianças participam de um concerto no fim da programação.
Para mariores informações sobre “El Sistema USA”, visite: https://www.elsistemausa.org
Categories: Direto de Miami
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