CHRIS DELBONI – COM LILIANA PINELLI
20 Março 2015 | 10h 38
Primeiro trabalho do gaúcho Matheus Broglio, de 34 anos, com aviação nos EUA foi rebocando faixa num monomotor
“Você ainda se chama de piloto?” Essas foram as palavras rígidas que saíram da boca de um instrutor americano de aviação quando Matheus Struck Broglio, um jovem piloto brasileiro, retomava a carreira nos Estados Unidos depois de alguns anos sem chegar perto de um avião.
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Mas ele não se abalou por completo. Pelo contrário, a pergunta, depois de um voo desastroso, só serviu de incentivo para se dedicar ainda mais à sua paixão e recuperar a forma.

“Fazia muito tempo que não voava, então estava enferrujado, meu inglês era difícil, e quando a gente pousou, ele desligou o motor, olhou com uma cara séria, e falou: ‘Do you call yourself a pilot?'”
John era um instrutor muito experiente, de 76 anos, ex-piloto militar e aposentado da linha aérea, diz Matheus. “Um verdadeiro aviador que me ensinou muita coisa boa”, conta. “Ele diz: ‘O pior piloto é o que quebra o avião e não morre – porque vai quebrar mais aviões'”.
Assim, com humildade e perseverança, Matheus foi ganhando a confiança do americano e seu primeiro trabalho no ramo de aviação nos Estados Unidos foi rebocando faixa num monomotor – não só na Flórida – mas no país inteiro. Só para a Califórnia ele foi sete vezes. Também já voou cinco vezes para o Brasil, uma delas para levar um bimotor para uma escola brasileira de aviação – com duração de voo entre 25 e 38 horas.
Mas hoje, com 34 anos, Matheus, ou Matt como é conhecido aqui, não tem ido tão longe. O máximo que chega num dia comum é a Boca Raton, um passeio que leva um pouco mais de uma hora, ao norte, ou na praia de Key Biscayne, ao sul do hangar onde fica seu Cessna 182 Skylane, no aeroporto North Perry, em Pembroke Pines.
“Em dezembro de 2013 tive a ideia de começar uma empresa de voos panorâmicos após um voo que fiz com uns amigos de minha mãe que estavam de férias em Miami”, conta. “Eles ficaram muito felizes e realizados pela experiência e a paisagem que Miami oferece.”
Em seguida, Matt comprou o monomotor e abriu a empresa Miami Plane Tours, de voos panorâmicos.
Depois de um investimento de cerca de US$ 60 mil e uma boa reforma, o avião ficou pronto para o primeiro voo em dezembro de 2014.
O numero de voos vem crescendo bastante: 14 em janeiro e 24 em fevereiro, e ele espera que continue assim. “Meu sonho hoje é ver minha empresa crescer e aumentar a frota”, diz.
Piloto Matheus Struck Broglio lança empresa de voos panorâmicos em Miami. O brasileiro conta aqui o segredo do seu sucesso. from Chris Delboni on Vimeo.
Mas seu sonho nem sempre foi esse. Matheus nasceu em Santa Maria no Rio Grande do Sul, morou em Novo Hamburgo até os 14 anos, em Santa Cruz do Sul dos 14 aos 18, e em Porto alegre dos 18 aos 22, quando resolveu se mudar para a Flórida.
Sua paixão por aviação começou com 17 anos, no Aeroclube de Santa Cruz do Sul. Fez um curso de piloto privado, tirou o brevê e ingressou na Faculdade de Ciências Aeronáuticas na PUC-RS, um curso pioneiro no País e uma parceria com a Varig, que oferecia trabalho para os formados.
Mas Matheus se formou em dezembro de 2001, logo após os ataques terroristas de 11 de setembro nos Estados Unidos. A aviação mundial entrou em crise, e o piloto recém-formado passou um ano desempregado.
“Não havia emprego para pilotos em nenhum lugar no Brasil, nem mesmo no exterior”, conta. “As chances de trabalho para um piloto com apenas 170 horas de voo eram mínimas.”
Maria da Graça, uma grande amiga de sua mãe, estava morando na Flórida e ofereceu para que ele ficasse em sua casa o tempo necessário.
“Ela também disse que havia bastante oportunidade de empregos, como manobrista, garçom, construção civil, lavador de carro, etc, e que quando chegasse aqui seria fácil”, disse. “Consegui uma passagem barata com o pai de um amigo que era comissário na Varig e, com o dólar a R$ 3,86, comprei o valor de US$ 700,00 e vim”.
Matheus chegou em outubro de 2002. Conseguiu trabalho numa lavadora de carro, depois como manobrista, pedreiro e chegou a cuidar e morar um ano dentro de um barco ancorado numa marina em Miami. Já o pior trabalho, diz, foi colocar mármore. “Pagavam super mal porque eu tinha acabado de chegar.”
Mas com 22 anos, cheio de energia, ele foi em frente, trabalhando 17 horas, de manhã cedo como pedreiro e à tarde ou à noite como manobrista.
“Eu chegava arrebentado – ia dormindo na van – e os caras brincavam: ‘Mais massa, mole'”, diz, rindo. E os colegas não se referiam ao preparo do cimento, conta. “Me chamavam de mole.”
Mas ele não se arrepende da experiência. “Aprendi a ser simples, que trabalhar não machuca, não cai pedaço, não dói”, diz. E essa tem sido uma lição importante. “Aviação é engraçado – de vez em quando seu ego sobe”.
E isso, como Matheus já havia aprendido com seu instrutor americano, é o maior perigo para qualquer piloto. “A aviação é um desafio e acho que 90% dos pilotos acham que voam muito mais do que realmente voam. Os que mais voam são os mais quietos. Os melhores pilotos são simples”, diz. “Li outro dia que na aviação tu começas com duas sacolas: uma de sorte e uma de experiência – a de sorte está cheia e a de experiência está vazia. Seu objetivo é conseguir encher a de experiência antes que esvazie a da sorte.”
Hoje, Matheus tem 4 mil horas de voo e conseguiu validar todas as carteiras que tinha no Brasil – brevê, piloto comercial, por instrumento, multimotor -, mas decidiu que não queria mais ser piloto comercial de linha aérea – e quer dedicar mais tempo na terra, com a mulher Victoria, também gaúcha, que conheceu aqui, e suas duas filhas: Manuella, de 3 anos, e Olivia, de 1.
“Gosto de voar devagar, chegar a noite e ir para casa. É importante você fazer na vida o que gosta – se trabalhar com o que gosta, além de poder se dedicar muito mais, não sente que está trabalhando”, diz. “Quando comecei a rebocar faixa, me apaixonei ainda mais por essa aviação simples. Acho que avião pequeno é um voo mais clássico, é um voo que você sente mais.”
Serviço:
North Perry Airport/Bob’s Landing FBO
603 SW 77th Way, Hollywood, FL 33023
Telefone: (800) 954-1125, (305) 570-2003 (esc.) | (754) 214-2020 (celular Matheus Broglio)
E-mail: fly@miamiplanetours.com, matt@miamiplanetours.com
Site: http://MiamiPlaneTours.com
Facebook: https://www.facebook.com/pages/Miami-Plane-Tours/1533323586914288?sk=info&tab=page_info
Preço: 10 opções de rotas – entre US$ 45 (6 minutos) e US$ 299 (75 minutos)/pessoa (mínimo de 2 pessoas por percurso)
Twitter @chrisdelboni
Categories: Direto de Miami
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