Por Chris Delboni [chrisdelboni@gmail.com]
Há 30 anos moro nos Estados Unidos, onde estudei jornalismo, fui correspondente em Washington e lecionei em grandes universidades da Flórida.
Nunca observei momentos tão aterrorizantes. Nem os atentados de 11 de setembro de 2001 ameaçaram tanto a democracia americana como o poder absoluto, irrestrito e impulsivo hoje da Casa Branca.
Sempre me impressionou muito o equilíbrio dos Três Poderes (Executivo, Legislativo, e Judiciário), tão claro e explicito na Constituição dos Estados Unidos. Mas esta realidade histórica e tradição politica tem sido ameaçada, mais e mais, pela vitória e irreverência do Presidente Donald Trump, do Partido Republicano.
Os atentados já haviam criado uma base de proteção gigantesca ao país mais democrático do mundo, e a explosão da internet e mídia social, facilitou ainda mais a conjuntura atual, em que hoje os poderes legislativo e judiciário servem ao executivo.
Mas há esperança e o primeiro sinal veio esta semana nas eleições especiais de Alabama com a “inimaginável derrota”, segundo o diário The New York Times, do Senador Roy Moore, republicano de extrema direita, acusado de envolvimento sexual com menores de idade quando tinha uns 30 anos, e mesmo assim apoiado pelo presidente americano.
Segundo os principais jornais norte-americanos, a derrota de Moore representa uma mudança de valores e conduta da população.
“A vitória extraordinária do democrata Doug Jones foi uma pancada devastadora no partido [republicano], prejudicado pelas rivalidades e divisões partidárias, e uma derrota humilhante para o Presidente Trump,” diz o The Washington Post. “A campanha de Alabama foi mais uma indicação de que este partido [republicano] está passando por uma grande crise de identidade”.
Claro que o governo de qualquer país sempre tentou e tentará difundir informações favoráveis, e com esse fim, controlar o povo, de forma mais ou menos agressiva, através da imprensa e o conteúdo das reportagens e repórteres. É uma conduta comum e antiga. Mas a manipulação gerada pelo governo americano atual vem se agravando a cada dia, ameaçando seriamente a democracia do país.
Chega a ser irônico que ferramentas da mídia social, como o aplicativo “Twitter”, torna essa ameaça mais proeminente pelo seu uso frequente, de forma imatura, irresponsável e impulsiva, do presidente, que se comporta como um adolescente.
E aí está o grande perigo, abordado num livro publicado recentemente nos Estados Unidos, que coloca em duvida a sanidade do presidente americano.
Em “The Dangerous Case of Donald Trump: 27 Psychiatrists and Mental Health Experts Assess a President” [O Caso Perigoso de Donald Trump: 27 Psiquiatras e Especialistas em Saúde Mental Avaliam um Presidente], a editora da obra autora principal, Bandy X. Lee, da Faculdade de Medicina da Universidade de Yale, e colegas pedem uma avaliação mental urgente do 45º presidente dos Estados Unidos da América.
Ele foi diagnosticado por esses profissionais da área de saúde mental como sociopata e narcisista patológico, com sérios transtornos de personalidade e características de manipulação, sem remorso.
O psicólogo John D. Gartner, um dos autores, vai ainda mais longe e diz que o presidente americano sofre de “narcisismo maligno”, termo diagnóstico criado nos anos ’60 pelo psicólogo alemão Erich Fromm, sobrevivente do holocausto, para descrever Adolf Hitler.
“Narcisista maligno é um monstro humano”, escreve Gartner. “Temos uma obrigação de falar dos problemas mentais de Donald Trump. Nossa sobrevivência como espécie está em jogo”.
A psiquiatra e pesquisadora Nanette Gartrell, que também escreveu um artigo para o mesmo livro, adverte que o congresso americano deve agir imediatamente. “O arsenal nuclear está nas mãos de um presidente que mostra sérios sintomas de instabilidade mental. É uma questão urgente de segurança nacional. Pedimos aos nosso políticos eleitos que ouçam os alertas de milhares de profissionais de saúde mental que pedem uma avaliação neuropsiquiátrica independente e imparcial do Senhor Trump”, diz ela. “O mundo como conhecemos pode deixar de existir com um “tweet” nuclear algum dia às 3h da manhã”.
Em quase três décadas de EUA, cobrindo vários governos e alguns escândalos, como do ex-presidente Bill Clinton e seu caso amoroso com Monica Lewinsky, ex-estagiária da Casa Branca, que por pouco não levou a seu impeachment, nunca fiz um comentário politico como repórter e correspondente. Nunca achei certo misturar minha opinião com minha reportagem.
Mas hoje, não consegui me calar perante a situação politica atual e o extremo risco que um presidente descontrolado emocionalmente representa para uma democracia e segurança mundial.
Porem, me expresso não pela frustração do que vem acontecendo neste país, mas sim pela esperança trazida pela vitória de um senador democrata, iniciando o fim de um ciclo destrutivo e a restituição de uma democracia ameaçada.
Assim esperamos!
Categories: Editor's Note
Que ótimo artigo. Também tenho a mesma esperança
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E que Deus nos proteja…
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