Médico brasileiro ajuda a revolucionar diagnóstico cardíaco nos EUA

CHRIS DELBONI – O ESTADO DE S. PAULO

17 Abril 2015 | 08h 32

Chefe de radiologia de um renomado centro médico na Flórida, Dr. Ricardo Cury comanda uma equipe de 70 médicos especializados

Aos 23 anos, Ricardo Cury passou três meses na Universidade de Miami, num intercâmbio de medicina, durante seu último ano na Faculdade de Ciências Médicas de Santos. Ele retornou ao Brasil para concluir os estudos, mas gostou tanto que decidiu voltar aos Estados Unidos para fazer especialização em radiologia cardíaca.

“Percebi que era uma medicina de ponta na área de imagem e radiologia e, na época, a imagem cardíaca, tomografia e ressonância cardíaca estavam bem no começo”, diz. Preparou-se, fez as provas para validar o diploma nos Estados Unidos e quando terminou a residência na Beneficência Portuguesa de São Paulo, foi aceito para um “fellowship” na Faculdade de Medicina da Harvard, em Boston, uma das mais concorridas.

Tinha 26 anos e recém-casado com a colega Ana Cecilia, geriatra, com quem hoje tem dois filhos: Ana Beatriz, 9, e Ricardo, 7. “Eu era o mais jovem do grupo”, conta.  “Os primeiros meses foram os mais difíceis,  pela solidão, uma mudança completa, e naquela época não tinha Skype, WhatsApp.  Era muito mais distante, você sentia muito mais.”

Dr. Ricardo Cury com o tomógrafo mais avançado do mundo
Dr. Ricardo Cury com o tomógrafo mais avançado do mundo

Mas foi se adaptando e se superando – e hoje, aos 38 anos, Dr. Ricardo Cury é chefe de radiologia do Departamento de Diagnóstico por Imagem do Baptist Health of South Florida e do grupo Radiology Associates of South Florida, que presta serviços a todos os centros médicos do Baptist.  Ele tem 70 médicos sob seu comando, em cinco grandes hospitais da região e 15 centros de diagnósticos por imagens.

Sua carreira começou em Harvard e no Massachusetts General Hospital, onde participou de pesquisas de novos métodos para um diagnostico mais rápido e preciso de doenças cardíacas, passando dos estudos à clinica.  Como um pioneiro  na área, foi contratado como radiologista do hospital e professor assistente da faculdade.”Estava na hora certa, no lugar certo, quando estava tudo começando”, diz.

De lá, recebeu o encargo de trazer ao Baptist esses novos conceitos na radiologia cardíaca e aplicar os estudos para a fase clínica. Na chefia há quatro anos, Dr. Ricardo diz que gerenciar esse grande grupo de médicos de forma eficiente e eficaz talvez tenha sido até hoje seu maior desafio . “Como gerir um grupo grande de pessoas e mantê-las com o mesmo objetivo de aprimorar a qualidade, avançar a ciência e melhorar a saúde das pessoas?”, pergunta-se.

Mas está conseguindo – e o mais importante, criando uma cultura muito valorizada no seu hospital, conhecida por “high tech, high touch”. “É um termo que a gente usa bastante no Baptist Health of South Florida -tenta-se fornecer alta tecnologia mas com atenção e cuidado ao paciente”, diz. “Como brasileiro é uma coisa natural para mim. Mas é uma coisa que não é comum na medicina nos EUA – que acaba sendo bastante ‘high tech’ [alta tecnologia] – mas falta o ‘high touch’ [toque humano].  Não basta apenas fazer o exame.”

Ricardo Cury com os filhos Ana Beatriz, 9, e Ricardo, 7, em sua casa em Miami
Ricardo Cury com os filhos Ana Beatriz, 9, e Ricardo, 7, em sua casa em Miami

Mas é o exame e um novo equipamento chamado de revolucionário que hoje representam sua maior conquista na radiologia cardíaca e que ele estará apresentando no fim do mês na 45º Jornada Paulista de Radiologia | 1º Encontro Brasil – Península Ibérica em São Paulo (http://www.jpr2015.org.br).

O primeiro “Revolution CT” – Tomografia Computadorizada Revolucionaria – do mundo chegou no Baptist nas suas mãos para avaliação em 2013.  O equipamento é capaz de um exame volumétrico, ou seja, consegue captar toda a imagem de um órgão, e não em fases como os anteriores, e  tudo isso em menos de um segundo.

“Você diminui os movimentos, os artefatos, aumenta a qualidade da imagem e precisão no diagnóstico”, diz Dr. Ricardo, orgulhoso e satisfeito com o resultado e impacto na saúde do paciente.  “Foi um marco ser o primeiro centro mundial a receber esse equipamento”.

Em setembro de 2014, ele foi responsável pela sua primeira instalação no mundo para o diagnóstico, e principalmente de problemas cardíacos, que nos Estados Unidos representam a maior causa de morte anualmente. “Nos EUA, de 1 a 5 % dos pacientes que chegam com dores torácicas e recebem alta voltam com infarto em 30 dias.  Com a angiotomografia, esse numero diminui para 0,2 %”, comemora ele.

E com esse novo equipamento, serão ainda mais rápidos os diagnósticos e a decisão para o melhor tratamento que poderá salvar vidas.”O eletrocardiograma não é tão preciso e eficiente, o paciente fica em observação em média 24 horas – para excluir a possibilidade de ser um infarto”, diz.  “Com a nova metodologia, a angiotomografia no inicio do processo, conseguimos definir imediatamente – e com precisão – se o paciente está tendo um infarto”.

Conheça o segredo do sucesso do Dr. Ricardo Cury, chefe de radiologia de um grande hospital em Miami. Por Chris Delboni. from Chris Delboni on Vimeo.

Segundo novos estudos científicos que ele também irá discutir no encontro em São Paulo, a angiotomografia de coronárias consegue reduzir em 38 % o infarto e mortes por doenças cardiovasculares.

“Com exames avançados mas não invasivos, conseguimos detectar a doença coronária de uma forma precoce e modificar o curso natural da doença, através da diminuição de fatores de risco, orientação de dieta, medicamentos e em casos específicos de intervenção – então a gente obtém um diagnóstico mais preciso que não tinha antes”, diz.

Mas apesar da paixão por tecnologia desde pequeno, o radiologista acredita que o segredo do sucesso da medicina no futuro é “a atenção e o foco no paciente”, diz.

“A cultura médica americana está mudando e cada vez mais baseada na medicina centrada no paciente  – porque hoje a informação está disponível na internet, em qualquer lugar, as pessoas estão mais esclarecidas, então se o foco não for o paciente, ele vai para outro médico ou outro hospital”.

 

Twitter @chrisdelboni



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