Por Chris Delboni | Coluna Direto de Miami (http://colunistas.ig.com.br/diretodemiami)
Fotos de Carla Guarilha
A arquiteta Adriana Sabino chegou aos Estados Unidos em 1983.
Destino: Nova York. Previsão de estada: 6 meses.
Ela veio com Marcelo, seu marido, que faria um curso sobre o sistema bancário americano na New York University, e com suas duas filhas pequenas, uma com 10 meses e a outra com 2 anos e meio.
Logo voltariam ao Brasil.
Mas isso não aconteceu.
“Foi o maior conto do vigário que já passaram em alguém”, brinca Adriana, que havia deixado para trás um escritório de arquitetura com projetos em andamento e uma casa montada em Belo Horizonte, onde a carioca se estabeleceu depois do casamento.
O curso em Nova York terminou. Mas a direção do Banco Rural, da família do Marcelo, estava querendo avaliar as opções do mercado bancário em Miami na época, e ninguém melhor do que o casal que já se encontrava no país.
“Eu continuava com minhas duas malinhas e minhas duas crianças – com mais suas duas malinhas”, conta Adriana, que 30 anos atrás iniciava aqui uma vida de desafios – mas também muitas conquistas.
E foram essas conquistas que levaram à grande homenagem que recebeu na semana passada: sua foto agora faz parte da exposição “100 Latinos”, um painel dos latinos mais influentes daqui, que ficará exposto por um ano no Aeroporto Internacional de Miami.
O projeto, uma iniciativa da Associação Fusionarte, de Madrid, está na sua segunda edição em Miami, e espera em breve fazer parte de muitos outros aeroportos nos Estados Unidos.
A colombiana Verónica Durán, fundadora e presidente da Fusionarte, diz que o objetivo do projeto, que resulta em um livro e exposição, é mostrar para o mundo os latinos que são exemplos de sucesso, são imigrantes profissionais que contribuem para o desenvolvimento da cidade onde vivem em vários aspectos: econômicos, sociais e culturais.
“Queremos mostrar o rosto da América Latina”, diz ela.
E Adriana hoje está neste seleto hall.
“Tinha achado a iniciativa muito interessante – de valorizar as pessoas que estão fazendo a diferença em Miami”, diz Sabino. “Agora sou uma delas. Acho que trago essa integração da minha comunidade com a sociedade multinacional de Miami”.
O outro brasileiro selecionado este ano foi o piloto Hélio Castroneves.
Yolanda Sánchez, diretora para assuntos artísticos e culturais do aeroporto, disse que os 100 latinos escolhidos representam modelos de perseverança e comprometimento. “Para muitos, não têm sido fácil”, diz ela. “Tenho muito orgulho de poder mostrar os aspectos positivos da cultura latina”.
Já para Adriana, é especificamente a cultura brasileira que ela pretende disseminar cada vez mais por aqui.
Ela divide seu tempo quase igualmente entre sua empresa de planejamento e decoração de interiores,Adriana Sabino Interiors, e o Centro Cultural Brasil-USA, que acaba de completar 15 anos.
Adriana cofundou o CCBU, uma entidade sem fins lucrativos, que nasceu com o objetivo de difundir e divulgar a cultura brasileira em Miami.
“Foi uma estratégia de sobrevivência de imigrante. A ideia era mostrar toda a riqueza que o Brasil tem e que não era muito divulgada,” diz ela. “A gente queria abrir um espaço de prestígio para o brasileiro que estava morando aqui e marcar nossa presença de uma maneira simpática”.
Uma de suas prioridades sempre foi a disseminação da língua portuguesa do Brasil, de forma abrangente, onde o aprendizado iria além do idioma, envolvendo história, geografia e outros aspectos da cultura, representando assim um resgate cultural completo através do idioma.
Existe uma grande diferença entre falar um idioma e suas nuances culturais, diz Adriana, que foi uma das principais vozes para a criação do estudo bilíngue da pioneira escola Ada Merritt em Miami, onde as crianças aprendem as matérias em inglês e português e, recentemente, recebeu das mãos do cônsul-geral do Brasil em Miami, Embaixador Hélio Vitor Ramos Filho, a Ordem do Rio Branco, uma grande homenagem do Itamaraty.
“Ser brasileiro é falar a língua mas também entender o espírito brasileiro, compreender de onde você vem, que é fundamental”, diz Adriana, que enfrentou esse desafio ao chegar nos Estados Unidos: manter sólidas suas referências como brasileira.
“[Como imigrante] você precisa criar sua base”, diz ela. “O segredo da vida é você se colocar desafios que dão trabalho, demandam esforço, mas que estão dentro do seu alcance. Sou muito boa em criar uma base para mim”.
No vídeo, Adriana reflete sobre sua visão de vida e de sucesso:
* Texto originalmente publicado pelo portal de notícias iG.com.br na coluna Direto de Miami
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