* Fotos de Carla Guarilha
Como muitas crianças, Michael Oliveira chegou a sonhar em ser astronauta. Mas com três anos, ganhou um par de luvas de boxe e, naquele momento, começou sua carreira. Sabia, exatamente, o que queria ser quando crescesse. E hoje não se imagina fazendo outra coisa.
“Eu sei cozinhar, eu sei limpar”, brinca o boxeador, aos 22 anos, que também adora motores e diz, rindo, que poderia ser até mecânico. “Acho que tenho talento para ser o que for mas não vou estar contente fazendo qualquer outra coisa”.
Michael lutou profissionalmente, pela primeira vez, aos 18 anos.
Desde então, venceu 17 lutas e perdeu uma, no início do mês no Uruguai, para Acelino “Popó” Freitas, 36 anos e campeão mundial quatro vezes, que acaba de aceitar a revanche, prevista para novembro, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.
“Aprendi que na vida, quando você cai, não quer dizer que você é um perdedor”, diz Michael. “Mas se você levanta, quer dizer que você é um vencedor”.
E é com esse espírito que o boxeador está chegando em São Paulo para uma coletiva de imprensa, marcada para sexta-feira no Hotel Fasano e para finalizar as negociações de patrocínio com a Everlast, grande empresa de equipamentos, roupas e acessórios esportivos, que está lançando também uma linha de óculos Michael Oliveira.
Michael retorna em seguida para Miami, onde vai entrar em uma maratona de treinamento mais intenso nos próximos quatro meses.
Sua grande inspiração foi seu avô paterno, João Pedro, com quem assistia lutas de boxe quando era criança. O avô, que nunca chegou a lutar profissionalmente, treinou com o campeão mundial Éder Jofre, um dos ídolos do jovem boxeador.
“Ele me inspira muito”, diz Michael sobre o pugilista, que se tornou um amigo da família.
Mas é do avô, que faleceu há 5 anos, que ele fala com enorme carinho, adoração e saudade.
“Eu acho que ele, às vezes, entra no meu corpo, me ajuda, me dá força”, diz o neto. “É por isso que está dando tudo certo”.
Mas nem sempre foi assim. Com 13 anos, Michael pesava mais de 100 quilos.
“Quando ia para a escola, as crianças me empurravam, derrubavam meus livros”, conta. “Mas eu sempre fui forte. Sempre tive personalidade e nunca me importei com o que as pessoas pensavam. Quando eu quero uma coisa, eu luto até o final para conseguir”.
Para emagrecer, passou a frequentar uma academia de boxe. Mas só ficava na prática. Ele pedia para os pais deixá-lo lutar, mas eles sempre empurravam para o ano seguinte.
Até que com 17 anos, Michael teve sua primeira experiência em uma luta amadora, e em seguida outra, ambas vencidas por nocaute.
Daí em diante, o sucesso vem chegando rapidamente.
Michael, que já conquistou o cinturão latino-americano do Conselho Mundial de Boxe dos pesos médios, espera lutar pelo titulo mundial até o final de 2013.
O mexicano Julio Cesar Chávez Jr. é hoje um dos principais concorrentes do “Rocky Brasileiro”, como Michael foi apelidado em homenagem ao campeão mundial Rocky Marciano.
Mas sua maior identificação ainda é com o Brasil, diz o boxeador, que tem tripla cidadania: brasileira, americana e grega, pelo lado materno.
“Mesmo que as pessoas falem que não sou brasileiro, vou continuar forte representando o Brasil”, diz Michael, que chegou à Flórida com os pais em 1990, quando tinha apenas 15 dias.
O avô materno, Nicolas Michael Degreas, que morreu há 12 anos, tinha sido sequestrado, e por questões de segurança, a família – dona da empresa paulista Beira Mar Beachwear, de trajes de banho – resolveu se mudar para Miami, onde hoje o boxeador mora com a mãe, Christina Degreas, os irmãos, Nicolas, 21, e Henrique, 18, e o pai, Carlos Oliveira, seu empresário e a pessoa que mais confia na vida – seu maior ídolo.
“Meu pai sempre me falou, ‘fecha os olhos e quando eu falar para pular do abismo, você pula, por que você pode ter certeza de que não vou querer machucá-lo nunca”, diz o boxeador, emocionado. “Isso é muito importante”.
Christina diz, rindo, que além dos seus três filhos e marido, a família também tem outros integrantes: seis cachorros, dois macacos, duas araras e dois gatos.
“O boxe é só o começo que vai abrir muitas oportunidades para mim mais à frente, e com essas oportunidades, eu posso fazer infinitas coisas”, diz o pugilista que tem como meta de vida ajudar crianças no Brasil e, especialmente, crianças que tem o sonho de chegar às olimpíadas, principalmente, praticando boxe.
“Eu quero ajudar as pessoas e não espero nada em troca”, diz Michael, que está fazendo faculdade de fisioterapia na Florida International University e pretende usar essa experiência acadêmica para impulsionar a academia de boxe que a família vai abrir, ainda este ano, em Kendall, perto de onde moram na Flórida.
“Nada no mundo é impossível”, diz o rapaz, que um dia sonhou ser astronauta. “Falam que o céu é o limite. Não é o limite. Tem homem andando na lua”.
*No video, Michael Oliveira releva o segredo do seu sucesso e aspirações.
* Texto originalmente publicado pelo portal de notícias iG.com.br na coluna Direto de Miami
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