*Fotos de Carla Guarilha
A paulistana Yara Gouveia está colocando o Brasil no mapa de um dos mais badalados shoppings do sul da Flórida, o Aventura Mall, o segundo mais visitado dos Estados Unidos. Ela, junto com outros empreendedores, abriu lá recentemente o Rococoa Café, um grande quiosque de comidinhas francesas com mesas ao redor. E o negócio pode desembarcar em São Paulo, em breve.
Yara – que está entre as mais bem sucedidas corretoras de imóveis de Miami – é um dos sócios-investidores. “Nunca imaginei entrar no ramo gastronômico”, conta a empresária. “Mas como diz nosso sócio, Pascal Cohen, às vezes, as coisas acontecem tão rápido que a gente nem entende. Por isso é que vai dar certo”.

Yara Gouveia e sócio Pascal Cohen, na frente do Rococoa, no shopping Aventura. Foto: Cortesia Yara Gouveia.
Cohen, que é francês, passou recentemente 10 dias no Brasil com a Yara e outros investidores para estudar o mercado e mapear as oportunidades. Visitaram vários shoppings da capital paulista, mas antes de qualquer expansão nos Estados Unidos ou no Brasil, estão aperfeiçoando o “tempero”, os detalhes do menu, que inclui cafés e doces, saladas frescas e “waffles” e “paninis” feitos na hora, sempre com um toque especial de atenção a detalhes de um salão de chá parisiense.
Mas, Yara diz que além da possibilidade de levar o Rococoa ao Brasil, há outros grandes planos, a médio e longo prazo, aqui na Flórida.
Pascal Cohen, CEO e presidente do Foodinvest Group, que já possui vários estabelecimentos em Miami, inclusive o restaurante francês La Goulue, de Bal Harbour, está consolidando a parceria com os brasileiros. Logo, eles estarão entrando numa rede de hotéis de luxo, começando por South Beach, onde pretendem abrir e administrar um restaurante/lounge/boate, programado para inaugurar em outubro.
“Vai ser um dos quatro, cinco maiores pontos de atração de Miami”, conta Yara, que ainda não pode divulgar os detalhes, mas está muito animada com as novas perspectivas. “O Rococoa é a ponta do iceberg”, diz ela, com entusiasmo e otimismo.
“Tem que acreditar e ir atrás”, recomenda. “Não pode ter medo de ir à luta”.
E foi sua coragem que transformou-a em uma mulher vitoriosa.
Formada pela Escola Superior de Música Santa Marcelina em São Paulo, Yara foi professora de música do Porto Seguro, um dos colégios mais tradicionais da capital paulista, por 15 anos.
Casada com o empresário Ricardo Frederico Freitas de Gouveia, ela decidiu parar de trabalhar quando nasceu Felipe, seu filho mais novo, hoje com 22 anos. Ricardo estava com muitos negócios em Miami e o casal viajava com tanta frequência para cá, que resolveu comprar um apartamento de férias, no inicio dos anos 90, em Williams Island, em Aventura, que era um dos locais mais cobiçados por brasileiros. O corretor foi Léo Ickowicz, dono da imobiliária Elite International Realty, onde hoje ela trabalha, e também um dos sócios do Rococoa, além de grande amigo.
Gostaram tanto que a família resolveu se mudar de vez: Ricardo, Yara, Frederico, o filho mais velho, hoje com 30 anos, e Felipe.
“Era dondoca”, brinca. “Sem experiência, não pensava mais em trabalhar”.
Mas a vida deu uma virada. Seu marido se encantou com o jogo. Chegou a levar uma bolada de US$1,750 milhão em um dia em um pequeno cassino da região. Ganhava com a mesma facilidade com que acabou perdendo tudo.
“Quando vi que meu marido estava perdendo o controle da situação, fui no impulso. Pensei, vou começar a fazer alguma coisa para me entreter porque a rotina era só ir ao shopping, spa, encontrar as amigas”.
Como Yara recomendava muitos clientes para a Elite, Léo sugeriu que tirasse licença de corretora. Ela gostou da ideia e ia para as aulas de Bentley, um dos muitos carros na garagem.
Mas a situação piorava a cada dia, e ainda apaixonada pelo pai de seus dois filhos, decidiu voltar ao Brasil com a família, achando que iria ajudá-lo a deixar o vicio. Mas não adiantou.
“Ele teve o azar de ter tido muita sorte”, diz ela, que dois anos depois resolveu se divorciar e voltar para Miami.
O Fred, hoje músico clássico em Nova York, havia ficado para concluir a faculdade de música na Universidade de Miami, e Yara pegou o avião de volta, com Felipe e US$12 mil no bolso. Nada mais. Tinha vendido tudo que podia.
Ela foi trabalhar como vendedora de lingerie da Bloomingdale’s. As antigas amigas que a viam ficavam chocadas e se escondiam atrás de araras de roupa para mostrá-la a outras conhecidas.
Acabou saindo do trabalho por não ganhar o suficiente para o sustento. Com licença de corretora, resolveu investir de cabeça na profissão.
Mas, um ano depois que retornou a Miami, quando ainda lutava para se reerguer, outra pedra no caminho: o pai de seus filhos teve uma séria inflamação e, aos 53 anos, faleceu em São Paulo.
“Era ex-marido, mas foi sempre uma pessoa amiga, que eu admirava – um homem jovem, brilhante e inteligentíssimo”, conta. “Levou um tempo para eu nascer de novo”.
Mas ela conseguiu. No ano passado vendeu US$30 milhões em imóveis e, este ano, diz que começou bem.
“Com bom humor, você abre portas, quebra gelo e interage muito melhor com sua família, seus amigos e seus clientes”, diz. E esse é seu grande segredo: o sorriso no rosto.
Ela brinca que tem depressão eufórica.
“Quando você está de bem com a vida, a vida fica de bem com você”, diz, com orgulho de suas conquistas e de onde ainda espera chegar.
“Minha vida é uma roda gigante muito grande. Eu já tive muito lá em cima. Já tive muito lá embaixo. Quem sabe vou dar outra volta”, diz. “O que eu sinto é que, de tudo que eu passei, parece que estou sendo preparada para algo mais. Eu vejo que o sucesso não é só ter dinheiro. Você tem que ter uma bagagem de conquistas”.
No vídeo, Yara Gouveia fala um pouco mais sobre o segredo de seu sucesso – e deixa uma canjinha no piano de sua casa, lembrando os velhos tempos de professora de música. Hoje, escutá-la tocar é um privilégio reservado somente para os amigos de verdade.
* Texto originalmente publicado pelo portal de notícias iG.com.br na coluna Direto de Miami
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